Desfralde no autismo: dicas e aliados de crianças autistas

Desfralde no autismo: dicas e aliados de crianças autistas

Desfralde e autismo, como desfraldar uma criança autista? Relato de desfralde com dicas
Eric agora usa uma cueca impermeável para ajudar com o desfralde, já que ele ainda tem escapes

Desfralde: Como desfraldar uma criança autista? Essa é uma das perguntas que mais me faço nos últimos anos. Mesmo sabendo que meus filhos são autistas e que nós teríamos dificuldade, não pensei que seria tanta. Mês passado eu abri os stories do Instagram e, em choro, iniciei meu desabafo: meus filhos já são grandes e ainda não foram desfraldados. E eu estou frustrada e cansada com as tentativas, escapes e roupa suja.

Com essa desabafo, recebi inúmeros relatos de mães e pais de autistas que vivem essa mesma dificuldade. Entre esses relatos, chegou o da Poli, mãe do Lorenzo de 4 anos, também autista como meus filhos. Enfrentando diversas dificuldades, Poli conseguiu adotar inúmeras estratégias para que o desfralde acontecesse e uma experiência como essa merece ganhar visibilidade.

Sabemos que nem toda dica vai se adaptar tão bem para a realidade que cada um vive, mas se uma funcionar, essa contribuição já valeu. Segue abaixo o relato de Poli. Se você quiser saber como foi parte da nossa experiência com desfralde, deixei registrado em um vídeo no canal e você pode assistir clicando na imagem abaixo.

A história do desfralde do Eric

“Quando nos tornamos mãe, não temos ideia de quantos desafios encontraremos pelo caminho da maternidade, o desfralde definitivamente é um deles. Com a chegada do diagnóstico de autismo, as expectativas para cada fase do desenvolvimento sempre causavam um desespero. Quando o Lorenzo completou 2 aninhos, ele foi para a escolinha e já me deparei com um medo quando percebi que as crianças estavam praticamente todas desfraldadas. Senti um peso dentro de mim que dizia que eu deveria iniciar esse processo e que era o melhor momento para o desfralde, pois teria o exemplo dos amiguinhos. Me enganei, era o melhor o momento na minha cabeça de mãe e não para o meu filho, ele não estava pronto para essa fase. Foi aí que começamos a nossa jornada para o desfralde atípico.

Comecei a estudar sobre o desfralde, conversei com a pediatra que me orientou sobre os sinais de prontidão da criança. Eu deveria observar os horários que fazia xixi e cocô e o principal sinal seria o interesse pelo banheiro, desfralde partiria por esse princípio.

Para auxiliar no processo de forma lúdica e explorando o máximo possível o uso de apoio visual, pesquisei desenhos, músicas, livros sobre o uso do banheiro e compramos um assento redutor com escada para o vaso.

Nós sempre falamos abertamente para ele sobre o banheiro e o que fazemos lá, já que o exemplo é a melhor estratégia. Quando o assento chegou, ele mostrou um grande interesse, me ajudou a montar e colocamos no vaso. De repente a criança feliz ficou irritada e nem chegou perto do vaso, como se estivesse com medo. Ali, nos deparamos com uma barreira e para completar percebemos que o Lorenzo estava com dificuldades para evacuar, espaçando muitos dias e segurando quando tinha vontade. Seu comportamento mudou em casa, ficava irritado e agitado, parou de comer e não dormia direito. O desfralde que não havia nem começado, não era mais importante, o nosso foco era cuidar da questão fisiológica e por isso procuramos uma gastro para ajudá-lo.

Lorenzo fez vários exames para investigar qualquer patologia e quais alternativas para melhorar essa condição. Demos início ao tratamento e em contrapartida, muita conversa, muita brincadeira no banheiro, fazendo aproximação sucessiva do vaso. Com o apoio da terapeuta ocupacional com integração sensorial, da psicóloga e todos os esforços em casa, conseguimos alguns avanços no banheiro. Ele já colocava a mão e chegava perto, porém ainda com dificuldades de evacuar, pois não queria fazer, mesmo seguindo o protocolo da gastro.

Seguimos com essas tentativas até que um dia decidi que iria mudar. Já que com fralda ele não faz, decidi tentar colocar a cueca e iniciar o processo de desfralde. Conversei com a TO, que me disse que, da parte dela, ele estava pronto e me deu o maior apoio e dicas de reforçadores. Nisso, o Lorenzo havia acabado de completar 4 anos, o ano letivo estava para começar, escola nova, adaptação com tudo e eu embarcava com a cara e a coragem nessa jornada.

Vou compartilhar com vocês a nossa experiência do que fizemos em casa e que deu certo com o Lorenzo, mas que pode ser diferente para cada criança. Com toda certeza que poderia dar tudo muito errado, eu segui firme no propósito. Comprei as cuecas da patrulha canina que era o hiperfoco dele naquele momento, protetor de colchão, cuecas de treinamento, adesivos próprio para banheiro com formato de animais e letras que ele gosta e colamos no box. Montei um quadro de recompensa com os pontos que precisávamos incentivá-lo para evoluir, plastifiquei e colei no azulejo acima do vaso. 

Mostramos tudo para ele, colamos juntos os adesivos no box e expliquei que ele poderia escolher qual personagem usaria na cueca, já que a fralda não seria mais usada. Tiramos a fralda totalmente de dia e de noite, pois ele já acordava sequinho.  A cada vez que ele fizesse suas necessidades no lugar certo, ganharia uma estrelinha e, como recompensa, no final de semana ele poderia escolher um lugar para ir. Como ele gostava muito de parque, ele se tornou um grande reforçador e aliado nesse desfralde.

Nos primeiros dias aconteceram todos os xixis e cocôs na cueca, mesmo levando ao banheiro a cada 20 minutos! Ele nem chegava perto do vaso. Um belo dia, peguei a caneta que era para marcar a estrelinha no quadro de recompensa e desenhei uma bolinha dentro do vaso, como se fosse um alvo. Quando ele acordou naquele dia, o levei para o banheiro e falei pra ele tentar acertar a bolinha com o xixi, como um desafio. E não é que ele gostou da ideia e ganhou sua primeira estrelinha? Vitória! 

Vários escapes ainda aconteceram, porém, com menos frequência que antes. O problema ainda era o assento e o cocô. Ele segurava tanto o cocô que até suava, ficava branco, parecia que ia desmaiar.  Em um dia de desespero, ao vê-lo daquele jeito, falei que ele iria perder a estrelinha se continuasse assim… afinal, ele se orgulhava dela e ficava muito feliz que iria passear. Na mesma hora, a criança aceitou sentar no assento e conseguiu evacuar. Só para vocês saberem, nós ficávamos até mais de duas horas com ele no banheiro, líamos livros, cantávamos até ele não aguentar mais segurar e acabava fazendo na cueca ou no chão.

Desde esse dia em diante, não tivemos mais episódios como esse. Continuamos conversando muito, cantando e usando o quadro de recompensa, evoluindo a cada dia.

Lorenzo ainda faz o tratamento com a gastro para a questão do cocô, pois ainda apresenta dificuldades, segurando muitos dias para evacuar.

Meu recado para vocês, mamães atípicas, é que confiem nos seus filhos e, principalmente, em vocês! Estudem bastante, conversem com os terapeutas dos seus filhos e com outras mães. Caso não dê certo, volte um passo para trás e quando sentirem confiantes de novo, recomece.”

Esse foi o relato de Poli, nossa querida seguidora e se você quiser mais algumas dicas, temos esse artigo aqui no blog com dicas de profissional para desfralde, leia clicando aqui. Deseja compartilhar seu relato também? Envie um e-mail para contato@familiatagarela.com.br e escreva sua história, relate uma dificuldade, compartilhe uma experiência incrível que viveram. Queremos conhecer as mães atípicas que habitam esse pequeno universo aqui. Até mais!

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