Osteopatia em Bebês

Osteopatia em Bebês

Osteopatia em BebesO QUE É?
A Osteopatia é um conceito terapêutico que repousa sobre alguns fundamentos simples e por vezes negligenciados pelo conceito médico clássico atual (TRICOT, 2004). Osteopatia (também chamada de medicina osteopática) respeita a relação entre corpo,mente e espírito na saúde e na doença; ela se alicerça na ênfase entre a integridade estrutural e funcional do corpo e na tendência intrínseca do ser humano de auto-cura.  Praticantes de Osteopatia utilizam uma vasta variedade de técnicas manuais para melhorar as funções fisiológicas e/ou dar suporte à homeostase que pode ter sido alterada por uma disfunção somática (estrutura corporal): do esqueleto, das articulações ou das estruturas miofascias; e relacionadas aos vasos arteriais e venosos, aos linfáticos e aos componentes neurais (World Health Organization 2010). Foi concebida pelo médico americano Andrew Taylor Still que insatisfeito com os recursos da medicina no início do século IX, procurou compreender o ser humano na sua globalidade.

Still já descrevia tratamento de bebês no seu livro “research and parctice” (1910) mas foram os trabalhos de WG Sutherland que trouxeram o conceito osteopático para o tratamento craniano que abriu essa possibilidade de tratamento de disfunções dos pares cranianos, nervos com oriegemno encéfalo que deixam o crânio por pequenos espaços entre os ossos (gamados de forames) .  Foi uma mulher, Arbuckle que começou a desenvolver um trabalho com crianças com paralisia cerebral, entendendo a relação da dura-máter (membrana que reveste todos os tecidos nervosos) sobre a globalidade do corpo e que nos fez entender a relação de sintomas que possam estar muito distantes da causa.

A maior contribuição para a pediatria veio com Vyola Fryman, aluna de Magoun após perder um bebê por convulsões sem diagnóstico, ela concebeu o firme propósito de ajudar crianças com diferentes patologias através da osteopatia. Ela achava que se tivesse tido esses conceitos antes, talvez pudesse ter ajudado seu próprio filho. Ela trabalhou e ensinou até a idade de 85 anos e faleceu esse ano, sem que eu pudesse ter a oportunidade de vê-la trabalhar pessoalmente.

COMO A OSTEOPATIA TRATA BEBÊS E CRIANÇAS?
A osteopatia propõe o disgnóstico do que chamamos de disfunção somática, baseada no acrônimo ARTT ou TART (em inglês). “A” de asymmetry (assimetria), “R” de range of motion (amplitude de movimento, “T” de tissue tenderness (dolorimento do tecido), e “T” de texture changes (alterações de textura do tecido) mas todo esse conceito de disfunção somática, para o bebê e a criança tem uma adapatação diferente. O bebê não vai te dizer, como o adulto, onde é o incômodo, se determinado movimento agrava ou melhora. Quem trabalha com crianças e especialmente bebês necessita de TOTAL conexão com eles, porque quando isso acontece, ele vai me “dizer” como podemos  ajudá-lo.  Precisamos perceber pela manualidade, disfunções de mobilidade das estruturas vertebrais e das costelas (controle simpático) , do crânio e do sacro (parassimpático). Essa parte autonômica do sistema nervoso controla funções viscerais e glandulares essenciais para a homeostase.

E O BEBÊ CHORA? 
Sim ele pode chorar. Já assisti a diversos osteopatas pelo mundo tratando bebês. Alguns, como a genial Nicette Sergueeff, dizem que só devemos tratar bebês tranquilos ou devemos fazê-los dormir. Dany e Eric Simon me ensinaram que o tratamento de um bebê também passa pelo polo emocional e não raramente, encontrar a lesão primária, que às vezes, é o próprio parto, causa um enorme desconforto. Quando o bebê chora no tratamento, sempre há possibilidade de acalmá-lo, ou aproveitar o momento da mamada.

O TRATAMENTO CAUSA DESCONFORTO?
Pode causar sim. Já palpei estruturas com disfunções incríveis em bebês muito pequenos. Já vi bebês com fragmentos ósseos no crânio. Palpar aquela região causa desconforto, mas que pode ser atenuado se usarmos os momentos de aleitamento ou mesmo de sono. O interessante é que passado o desconforto inicial, o bebê cai em um relaxamento profundo, um grande alívio.

COMO É O TRATAMENTO? 
Normalmente muito suave. A quiroprática defende o uso de  manobras de alta velocidade e baixa amplitude ou o famoso “thrust” (aquele ruído que acontece quando manipulamos um paciente na pediatria). Na osteopatia não utilizamos essas manobras em bebês. A explicação parece obvia: não há formação óssea ainda completa, os ossos estão separados em núcleos de ossificação dentro de um tecido cartilaginoso ou membranoso.

Utilizamos muito a osteopatia craniana, visceral e técnicas suaves (estruturais ou funcionais) para restabelecer a forma das estruturas que avaliamos como disfuncionais e assim promover a homeostase.

Alguns bebês ficam mais agitados alguns dias após o primeiro tratamento o que vai determinar a data da revisão dessa intervenção. Outros bebês imediatamente ficam mais calmos o que torna desnecessário uma segunda ou terceira intervenção. Às vezes o desconforto do bebê pode ser causado por fatores emocionais ou químico/alérgicos o que necessita que outras intervenções sejam conjugadas.

A QUEM SE APLICA? 
Recentemente assistindo um curso de osteopatia perinatal com o osteopata Thierry Leboursier comecei a pensar como responder essa questão. Ele discutiu com muita propriedade que a osteopatia não trata sintomas, trata o indivíduo. Isso é certo mas é difícil para os pacientes, mesmo os adultos entender que podemos tratar um lombalgia manipulando os pés. No caso das crianças, especialmente os bebês, normalmente os pais trazem as queixas e muitas vezes o pai e a mãe discordam da intensidade e da resolução dos sintomas.

A maior questão nesses anos que venho trabalhando com osteopatia pediátrica é o choro excessivo do bebê. O que já é um problema. O que podemos definir como excessivo? Um pediatra inglês (BARR, 1999) fez um trabalho muito interessante sobre padrão de choro em diferentes culturas e concluiu que todas as crianças tem um padrão de choro muito semelhante que piora entre o segundo e terceiro mês de vida. Normalmente os primeiros dias de vida são tranquilos, mas à partir da segunda semana alguns bebês tem dificuldade para dormir, regurgitam além do fisiológico e mostram sofrimento. Teoricamente um bebê deve poder ser colocado no berço sem que ele chore desesperadamente a cada vez que isso acontece.

Então, nós osteopatas pensamos que talvez algumas alterações da estrutura desse organismo possam estar comprometendo as funções fisiológicas e desorganizando a homeostase desse bebê. Podem ser discretíssimas compressões do nervo vago no seu trajeto, desde a saída entre o occiptal (osso posterior do crânio) e o temporal (osso da orelha)  até sua passagem pelo diafragma. Pode ser o próprio diafragma. Alterações nas rotações viscerais que acontecem no período embrionário ou compressões que possam ocorrer antes do parto ou durante o processo. Elas podem acontecer por um posicionamento anormal do bebê; alguma disfunção da própria mãe (disfunções de bacia, endometriose, escoliose, etc); ou alguma questão do próprio parto ( uma apresentação de face, um parto distócico, etc).

Às vezes observamos um bebê com a face muito assimétrica, por vezes há um desvio do nariz na linha média que pode obstruir a passagem do ar, fazendo ruídos. As orelhas em posição diferente, uma mais anterior e/ou mais aberta que vão mostrar disfunções dos temporais e podem interferir na posição da mandíbula causando, por vezes, dificuldade na amamentação. Também bloqueios da coluna cervical alta podem causar dificuldades na rotação da cabeça para um dos lados fazendo que o bebê “priorize” um dos seios. Outras questões são assimetrias marcantes que mostram posturas prefenciais que muitas vezes reproduzem a posição intra-uterina.

A parte do crânio relacionada às funções de fonação, mastigação, respiração e deglutição, também chamada de viscerocrânio, são pouquíssimo desenvolvidas ao nascimento. Não seria possível a passagem pelo canal do parto então priorizou-se a proteção do neurocrânio nesse primeiro momento da vida. Os ossos do crânio são maleáveis e se deformam para se adaptarem à passagem pelo canal vaginal. Não é comum observa-se cavalgamentos de suturas que podem ou não se resolver espontaneamente com o crescimento do cérebro. Disfunções da face, assimetrias podem comprometer a formação dos seios nasais e gerar questões como rinites, sinusites e “alergias” mais tarde. É importante que não haja compressões para que esse crescimento seja livre. Aquela hora que se perde as feições de bebê para ter as feições de criança.

Outra questão importante é o sono. Ao lado da coluna, próximo às costelas tem a coluna ganglionar paravertebral simpática que nos prepara para respostas de fuga ou luta. Por esse motivo é importante que exista um equilíbrio parassimpático (que nos ajuda nos processos de auto-cura, repouso e sono) garantido pelos pares cranianos e pelos nervos sacrais. Então para a osteopatia, uma disfunção de crânio como, por exemplo, uma plagiocefalia ou uma disfunção de mobilidade do sacro, pode interferir nesse equilíbrio.

Em alguns países do mundo como Canadá e mesmo na França há uma cultura de levar o bebê ao osteopata para avaliar a necessidade de intervenção, como um processo preventivo. Contudo se temos a necessidade de intervir, não é mais prevenção, já estamos tratando uma disfunção que poderia muito mais tarde se manifestar por outros sintomas.


adriana lacombe e beatrizAdriana Lacombe

Osteopata especializada em osteopatia pediátrica
Mestranda pela UERJ

Contato: 
adriana_lacombe@terra.com.br
(21) 22274016

3 thoughts on “Osteopatia em Bebês

  1. Ótima a matéria! Estava procurando sobre o assunto e foi mto esclarecedor. Amo as informações que vc traz aqui pra gente!

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