Autismo – 6 Coisas Que Aprendi Com Meu Filho Autista

Autismo – 6 Coisas Que Aprendi Com Meu Filho Autista

Ter um filho autista é um desafio bastante grande para pais e cuidadores. Crianças autistas requerem cuidados e atenção extras, o que acaba nos deixando exaustos ao final de cada dia. Ao mesmo tempo que ter uma criança com autismo possa ser, muitas vezes, frustrante, é também uma experiência única e enriquecedora.

Na semana passada, fomos convidados pelo Inspire Malta (ONG que o Eric freqüenta para tratamento, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar) a participar de um workshop para pais. Chegamos lá achando que seria uma palestra, mas fomos surpreendidos com uma espécie de dinâmica de grupo, que tinha como um dos objetivos refletir sobre as coisas que nosso filho autista nos ensinou. Ou como nos tornamos pessoas melhores por conta da convivência com ele.

Daí surgiu a idéia desse texto. Seguem abaixo 6 coisas que aprendi com meu filho autista:

1- Apreciar as pequenas coisas do dia-a-dia

Nós passamos a maior parte das nossas vidas na correria, tentando voar contra o tempo e resolver um milhão de coisas. Raramente a gente para para apreciar as pequenas coisas do cotidiano. O Eric é o oposto disso. Ele faz questão de apreciar pequenos detalhes que costumam passar despercebidos por nós, adultos. Ele gosta de observar flores bem de pertinho, gosta de catar folhas de árvores caídas ao chão. Presta atenção em todos os sons à sua volta, constantemente perguntando “que som é esse?”. Gosta de jogar pedrinhas no mar e de cantar. Na nossa última viagem em família, fomos a Roma. Depois de um dia agitado, vendo praças famosas, esculturas e ruínas romanas, perguntei para ele: “filho, o que você mais gostou de fazer hoje?” e ele respondeu “De tomar sorvete. E correr atrás dos pombos também”. No dia seguinte, fiz a mesma pergunta e ele respondeu “Gostei de andar de bonde”. Isso me faz refletir que a felicidade está mesmo nas pequenas coisas do dia-a-dia.

2- É importante reservar um “quiet time” para si mesmo

Pessoas com autismo costumam sofrer as chamadas crises de processamento sensorial. Elas ocorrem quando eles ficam expostos a uma grande quantidade de estímulos simultâneos, sejam eles visuais, auditivos ou táteis. Se esses estímulos sensoriais ultrapassam o nível de tolerância do autista, ele pode entrar em crise. Esse nível de tolerância nos autistas, via de regra, é muito mais baixo do que o de pessoas neurotípicas. Um passeio no shopping para nós é algo agradável, mas para uma pessoa com autismo pode ser extremamente desagradável – muitas luzes, vitrines, cartazes, muitas pessoas passando para lá e para cá, falando alto, além de música tocando no alto-falante do shopping. A combinação de estímulos sensoriais pode deflagrar uma crise. Uma vez em crise, a melhor coisa a se fazer é retirar a pessoa com autismo daquele ambiente. O ideal é ser um lugar em que ela se sinta segura, que possa retomar o controle e reajustar o seu processamento sensorial. Refletindo sobre isso, penso que todas as pessoas, autistas ou não, poderiam se beneficiar de um “quiet time”, de um tempo para relaxar. Um tempo para se conectar consigo mesmas e fugir, mesmo que por poucos minutos, da agitação do dia-a-dia.

3- Imagens valem mais do que palavras

Cada autista é de uma forma, mas um fator comum a eles é que eles possuem mais facilidade para entender imagens do que a comunicação verbal. Autistas não-verbais dependem totalmente do uso de gestos ou desenhos para se comunicar. Leia nosso texto sobre o desenvolvimento da fala no autismo. O Eric é verbal, mas percebemos que algumas vezes ele consegue entender as coisas muito mais facilmente quando usamos o apoio visual. Quando ele parece não entender ou contestar alguma coisa, usamos desenhos para que ele compreenda. Por exemplo, falar “agora vamos sair para a escola, na volta você brinca com os carrinhos” pode não funcionar. Mas se dedicarmos alguns minutos para desenhar, numa folha de papel, um “antes e depois”, tudo fica mais fácil.

4- Desacelerar

Falando em dedicar alguns minutos, lembro-me da importância de a gente DESACELERAR. Nossa vida é muito corrida, mas o autista funciona de uma maneira diferente. A gente precisa tomar cuidado para não envolvê-lo demais na nossa rotina atribulada, de modo a não estimular a ansiedade e acabar gerando crises que poderiam ser evitadas. Precisamos desacelerar. Andar devagar porque, naquele momento, ele precisa andar devagarzinho. Se no meio de um passeio o vento esta incomodando, parar e abaixar ao lado dele para inventar uma historia divertida sobre o vento. Desviar o caminho e parar o carro porque a etiqueta da camisa nova esta incomodando muito. Enfim, desacelerar e aceitar o ritmo dele.

5- Não fazer promessas vazias

Crianças autistas costumam apresentar comportamentos repetitivos. E isso se aplica bastante à fala. O Eric é um menino muito insistente. Quando ele quer alguma coisa, ele quer aquilo e é praticamente impossível fazê-lo mudar de idéia. A gente tem que rebolar, pensar fora da caixa, usar desenhos ou analogias. E quando falamos alguma coisa para ele, ele se lembra daquilo e nos cobra depois. Se falamos “agora não pode comer sorvete, só depois do almoço”. Assim que acabar o almoço ele vai cobrar o sorvete. Se falamos “se fizer sol amanhã, vamos no parquinho”, ele vai começar a cobrar o parquinho 30 vezes entre hoje e amanha, quer chova, quer faça sol. Ele fica ansioso, nervoso, esperando por aquele momento. Às vezes fica agressivo e perde o sono no meio da noite esperando pelo coelhinho da Páscoa ou pela chegada dos avós. Por isso aprendemos que o melhor é não fazer promessas a longo prazo, nem promessas que a gente não tenha certeza que pode cumprir. O nível de frustração quando ele espera por alguma coisa que acaba por não acontecer é imenso. Então, por que fazer promessas para qualquer pessoa, quando não temos a intenção de cumprir?

6- Amor e atenção são a melhor terapia

Os maiores presentes que podemos dar para um filho autista são o nosso amor e a nossa atenção. Às vezes, não há nada que a gente possa fazer para que ele se sinta mais calmo, mas só de ele saber que nós estamos presentes ali para ele, dedicados a dar o suporte que ele precisar, nos momentos mais difíceis, isso é algo que vai trazer conforto. Amor e atenção são essenciais para o sucesso de qualquer tratamento.

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